RELEASE
VEJA AS OBRAS EXPOSTAS CLICANDO NO NOME DOS ARTISTAS ABAIXO
Marcus André
Raquel Gralheiro
Exposição 18 de Novembro a 11 de Dezembro de 2004
Abertura 18 de Novembro às 20h
Visitação Seg a sex das 10 às 19hs / Sab das 10 às 16hs
A Galeria
Virgilio expõe 2 individuais simultãneas
Raquel Gralheiro e Marcus André
No primeiro
piso a artista portuguesa faz sua primeira individual em galeria
no Brasil com pinturas e objetos.
Segundo Paulo Reis, Raquel Gralheiro constrói um labirinto
de apropriações altamente reconhecíveis,
com suas damas rococós, anjos pós-rafaelistas,
pin-ups de revistas antigas, arabescos florais de maçãs
- fruta utilizada na pintura renascentista como símbolo
de pecado original -, monalisas pós-modernas posando
de Marilyn Monroe mescladas às balas candy, formando
um caleidoscópio de cores e citações.
A artista busca desenvolver o potencial plástico e semiótico, unindo o conceito de objet trouvé ao de readymade, criando uma nova percepção sobre objetos do cotidiano que, por mais barato que sejam, apresentam ,dentro do sistema capitalista, alguma noção de valor. Esse é o vetor central na obra de Raquel Galheiro.A artista vive e trabalha no Porto.
RAQUEL GRALHEIRO
Viseu,
Portugal, 1969.
Licenciada em Artes Plásticas-Pintura pela Faculdade
de Belas Artes da Universidade do Porto.
Bacharel em Desenho pela Escola Superior Artística
do Porto.
Exposições
individuais
2004, "Caixinha de surpresas/ Boîte à surprise",
Galeria Virgílio, São Paulo - SP, Brasil
"Aos pedaços"; instalação,
Por Amor à Arte Galeria, Porto, Portugal
"I Love You", Galeria ACBEU, Salvador - BA, Brasil
2003, "Corações aos Pulos", Museu
de Arte Moderna da Bahia, Salvador - BA, Brasil
2002, "Fast Fashion", Por Amor à Arte Galeria,
Porto, Portugal
2002, "Odisseia nas Tintas II", Diana Gallery, Atenas,
Grécia
2002, "Tutti-frutti Schewing-gum", Fundação
Joaquim Nabuco, Galeria Baobá, Recife - PE, Brasil
2002, "Odisseia nas Tintas I", TinT Art Gallery,
Thessaloniki, Grécia
2002, "Dos portuguesas" Galeria Carmen de la Calle,
Jerez de la Frontera, Espanha
2001, "Je me suis dans les teintes" Por Amor à
Arte Galeria, Porto, Portugal
2000, "Giroflé, giroflá" Galeria O.M.,
Penafiel , Portugal
1999, "Strawberry room", Por Amor à Arte
Galeria, Porto, Portugal
Exposições
Colectivas
2004,
"Ciclo - Um pensamento sobre a identidade permeável",
Centro Cultural de São Paulo, Brasil
"Outro Lugar" Galeria Virgilio - São Paulo,
Brasil
"Art-Athina 04", Feira de Arte de Atenas, representando
a Galeria TinT, Salónica, Grécia
"Era uma vez numa rua do Porto"; Museu da Bienal
Internacional de Vila Nova de Cerveira, Portugal
2003, "X'mas Bazaar", TinT Art Gallery, Salónica,
Grécia
"II Prémio Arte Erótica", Gondomar,
Portugal
"Art For Sale" Galeria ACBEU, Salvador - BA, Brasil
"Quattor", TinT Art Gallery, Salónica, Grécia
"XII Bienal Internacional de Vila Nova de Cerveira",
Portugal
"? Ponto de Fuga- Espaço Livre?"; Linha imaginária,
Galeria Marta Traba, Memorial da América Latina, São
Paulo - SP, Brasil;
"Kodra 03", Município de Kalamari, Grécia
"Art Frankfurt 2003", stand do projecto Linha Imaginária,
Frankfurt, Alemanha "Vice-versa" Linha imaginária
- Eixo Brasília, Espaço Cultural Venâncio
2000, Galeria Ecco II, Brasília - DF, Brasil
2002, "Cheep Art" TinT Art Gallery, Salónica,
Grécia
"Art 2 wear, art 2 use", Diana Gallery, Atenas,
Grécia
"Prémio Baviera", Museu dos Transportes,
Porto, Portugal
"Prémio Vespeira", Bienal de Artes Plásticas
"Cidade do Montijo" , Portugal
2001, "Viseu - O Regresso à Condição",
Casa-Museu Almeida Moreira, Viseu, Portugal
"Embandeirarte" Projecto na cidade; Porto 2001 -
Capital Europeia da Cultura, Portugal
"1º Prémio de Arte Erótica",
Gondomar, Portugal
"14 Fragmentos Contemporâneos - Artístas
Portugueses e Brasileiros", MAM da Bahia; Salvador -
BA, Brasil / Galeria 57; Leiria, Portugal
"XI Bienal Internacional de Arte de V. N. de Cerveira",
Portugal
"MIART 2001" Feira de Arte Moderna e Contemporânea
de Milão (stand da Galeria Por Amor à Arte),
Itália
"Arte para Todos: Sol, Sexo e Futebol", Galeria
Sicarte, Vilafranca del Penedés, Barcelona, Espanha
"Puti Club; ± 20 grupos e episódios no
Porto do séc. XX" (exposição integrada
na programação Porto 2001), Galeria do Palácio,
Porto, Portugal
2000, "MIART 2000" Feira de Arte Moderna e Contemporânea
de Milão (stand da Galeria Por Amor à Arte),
Itália
"TRANSITO 2000" Feira de Arte Contemporânea
de Toledo (stand da Galeria Por Amor à Arte), Espanha
"ART AL'HOTEL" Feira de Arte Contemporânea
(representando a Galeria Por Amor à Arte), Valencia,
Espanha
1999, "Colectiva de Pintura", Casa da Juventude,
Porto, Portugal
"III Prémio D. Fernando II", Câmara
Municipal de Sintra, Portugal
"X Bienal Internacional de Arte de V. N. Cerveira",
Portugal
"III Concurso Nacional dos Jovens nas Artes Plásticas
Francisco Wandschneider", Culturgest, Lisboa, Portugal
1998, "Prémio Fidelidade - Jovens Pintores",
Culturgest, Lisboa, Portugal
"Bienal de Artes Plásticas", Marinha Grande,
Portugal
"XI Salão da Primavera", Casino do Estoril,
Portugal
1997, "Prémio Júlio Resende", Gondomar,
Portugal
"Prémio Amadeo Souza-Cardoso", Museu Amadeo
Souza-Cardoso, Amarante, Portugal
"II Prémio D. Fernando II", Câmara
Municipal de Sintra, Portugal
1996, "II Prémio Nacional de Pintura", Fundação
Rotária, Cruz Vermelha Portuguesa, Lisboa, Portugal
1995, "Da Arte - Jovens Artistas da Maia", Fórum
da Maia Portugal
1990, "Desenho e Pintura", Arvore, Porto, Portugal
Representações
em Colecções Publicas
ACBEU, Salvador, Bahia- Brasil
Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, Bahia- Brasil
Fundação Joaquim Nabuco, Recife, Pernambuco-
Brasil
Fundação da Juventude, Porto, Portugal
Caja Castilla - La Mancha, Espanha
Instituto Politécnico de Viseu, Portugal
Ilustração
"Breve Colectânea de Literatura Moçambicana"
Membro
do grupo Linha Imaginária, Projecto de Intercâmbio
Cultural, desde 2003.
Bibliografia
"14 Fragmentos Contemporâneos"
"Viseu ut Pictura Poesis - O Regresso à Condição"
Prémios
I Prémio Arte Erótica, Gondomar - "Prémio
Rui Alberto Espaço de Arte"
No segundo
piso Com 7 telas em grandes dimensões
Marcus André se abre agora, no que podemos supor ser
um novo momento de seu trabalho, para uma maior soltura, alcançada
depois de seu mergulho na culinária do ateliê,
deixando-se experimentar uma nova relação com
as cores que podem proliferar em seu quadro sem facilidades,
mantida de outro modo uma unidade de luminosidade e de tons
serenos.
Encontramos ali uma natureza não-representável,
nada de imagens verdejantes e pitorescas projetando um país
imaginado, uma nacionalidade vazia em sua fixação
de identidade, mas uma experiência viva do tomar forma,
do fazer-se espontâneo e incessante do que se expõe
ao tempo e acolhe seu desígnio enérgico. Nada
da exuberância pra consumo externo; muito da vivência
erosiva de um lugar que de tão instável está
sempre a ponto de virar um lugar nenhum, escreveu Afonso Luz
Marcus André
Rio de Janeiro, Rio Janeiro . Brasil, 1961.
Exposições Coletivas
2004Centro Cultural Banco do Brasil. Onde Está Você,
Geração 80 ? RJ
Galeria Virgilio. Lugar Outro. São Paulo. SP
Arquivo Geral. Arte Contemporânea no Jardim Botânico.
RJ
2003 Museu de Arte Moderna RJ. Col. G. Chatheaubriand. Novas
Aquisições. RJ
2002 IIV Bienal Internacional de Pintura. Repres. Brasileira.
Cuenca. Equador
2001 Museu Nacional de Belas Artes. Galeria Sergio Millet.
Bolsa Faperj. RJ
2000 Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Novas Aquisições.
RJ
Kunstmuseun Heindenheim. Der Brasiliannische Blick. Aachen.
Alemanha.
1998 Museu de Arte Moderna de São Paulo. Anos 80.Col.
G. Chatheaubriand.SP
Museu de Arte Contemporânea de Niterói. O Artista
Pesquizador. R.J
Haus Der Kulturen Der Welt. Arte Brasileira. Berlin. Alemanha.
Ludwig Forum, Fur Internationale Kunst. Der Brasiliannische
Blick. Cologne
1997 Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Novas Aquisições.
RJ
Arco Madrid 97.Stand Galeria Paulo Fernandez. Madrid. Espanha.
Museu Municipal de Arte.Brasil Reflexão 97. Curitiba.
Paraná.
Museu da Gravura. Solar do Barão. Bienal da Gravura.
Curitiba. PR
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Novas Aquisições.
RJ
Galeria Casa do Brasil Madrid. B.A.T, Bom à Tirer.
Madri.Espanha
1995 Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Gravura Contemporânea.
RJ.
Galeria Casa da Imagem. Arte Contemporânea Brasileira.
Curitiba. PR
1994 Paço Imperial. Matéria e Forma. Rio de
janeiro. RJ
Galeria Sesi Paulista. Gravura Coleção G. Chateaubriand
. São Paulo. SP
Museu Municipal de Arte. Gravidade e Aparência. Rio
de janeiro. RJ
Machida Tokyo Museun. Tóquio. Japão.
Bienal Internacional de Gravura Lbjana. Slovênia.
Paço Imperial. Arte e Poder. Rio de janeiro. RJ
Museu Nacional de Belas Artes. Gravidade e Aparência.
Rio de janeiro. RJ
Bienal Ibero Americana. Cidade do México. México.
Museu Wilfredo Lan. Bienal Cuba. La Havana. Cuba.
Bienal Internacional de Gravura de Amadora. Amadora. Portugal.
Museu de Arte de Brasília. Prêmio Brasília
de Artes. Brasília. DF
Museu de Arte Moderna.Coleção Candido Mendes.
Rio de janeiro. RJ
Pavilhão Bienal de São Paulo. Projeto Centro
Cultural São Paulo. SP
Museu de Arte Moderna de São Paulo. Proj.Centro Cultural
S. Paulo. SP
Galeria Espaço Alternativo. Fundação
Nacional de Arte. RJ
Galeria Sérgio Millet Funarte, XIII Salão Nacional
de Artes Plásticas. RJ
ABC Notorio Gallery. New York. NY
Inter-Graphic Printmaking Biennial. Berlin.Germany
Escola de Artes Visuais do parque Lage. "Como Vai Voçê
Geração 80 ?" RJ
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. VIII Salão
de Artes Plásticas. RJ
Museu Histórico do Ingá. Arte Brasileira Atual
. Niterói. RJ
Taipey City Museun of Fine Arts. VIII Printmaking BiennialTaipey
1982 Museu da Gravura. Solar do Barão. V Mostra Nacional
de Gravura. PR
1981 IV Salão Carioca. Rio de Janeiro RJ
Exposições
Individuais
2003 Espaço
Cultural Sérgio Porto. Pinturas. Rioarte. Rio de janeiro.
RJ
2002 Museu Castro Maya. Gravuras. Chácara do Céu.
Rio de Janeiro. RJ
2001 Museu de Arte Moderna. Rio de Janeiro. RJ
Galeria Anita Schwartz. Rio de Janeiro RJ.
Galeria Casa da Imagem, Curitiba. Pr
2000 Museu Alfredo Andersen. Curitiba. Pr
Universidade de Barra Mansa. UBM. Pinturas. RJ
1999 Galeria Adriana Penteado. São Paulo SP
Centro Cultural São Paulo. São Paulo. SP
1997 Galeria Casa Triângulo. São Paulo. SP
1994 Galeria Casa Triângulo. São Paulo. SP
Museu da Gravura. Solar do Barão. Bienal da Gravura.
Curitiba.Pr
1992 Galeria Casa Triângulo. São Paulo. SP
1991 Pavilhão Bienal de São Paulo. Projeto Centro
Cultural. São Paulo. SP
1990 Galeria Casa Triângulo. São Paulo. SP
Galeria Contemporânea. Rio de Janeiro. RJ
1981 Centro Cultural ASA Schoolen Aliachen. Rio de Janeiro.
RJ
Bolsas
/ Prêmios
Bolsa
Programa de Bolsas RioArte 1995/1996. Rio de Janeiro. RJ
Bolsa UniArte Faperj. Fundação de Apoio a Pesquisa.
2000/01. RJ
O Artista Pesquisador, 1998. MAC. Museu de Arte Contemporânea.
Niterói. RJ
Prêmio Brasília de Artes Plásticas 1991.
MAB Museu de Arte de Brasília. DF
Formação
Universidade Federal do Rio de janeiro / UFRJ. Bacharelado
em Desenho
Industrial. Rio de janeiro RJ - 1981/85.
Escola de Artes Visuais do Parque Lage / EAV. Pintura e Desenho.
Rio de janeiro
RJ -1979/82
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Bloco Escola. Rio
de Janeiro RJ -1981
New School for The Social Research / Parson`s School of Desing.
Printmaking -1985/87.
Museu do Palácio do Ingá. Oficina de Gravura.
Niterói, Rio de janeiro. 1981/85.
FICHA TÉCNICA
MARCUS ANDRÉ 7 pinturas 2004
Dim. 195x500cm
1 pintura
Dim. 180 x250cm 6 pinturas
Tecn. tempera ,oleo e encaustica s tela
FICHA TÉCNICA
RAQUEL GRALHEIRO 15 obras entre Pinturas e objetos 2004
Tamanho Maior 90 x 280 cm
Menor 10 x 10 cm
>> TEXTOS
Preleções sobre estética na obra de Raquel
Gralheiro
Nas Preleções
sobre Estética, o pensador Friedrich Schiller (1759-1805)
comenta que não pode haver nenhuma regra objetiva do
gosto, mas apenas um critério empírico do belo,
pois se pede conselho junto àquilo no que todas as
épocas concordaram. É lógico que Schiller
não está escrevendo sobre a arte de hoje, mas
sobre a arte de seu tempo... e mesmo assim quando artistas
passavam a deixar o classicismo de lado e se aventuravam pela
incorporação de um gosto, digamos assim, mas
burguês. já suscitavam um desconforto para os
estetas.
Quando Schiller escreveu tais preleções, no
rigoroso inverno de 1792, o rococó se impunha como
modelo de beleza, aliciando o gosto para o adamascado, o bordado,
os arabescos, as colunas, a assimetria das formas. O rococó,
estilo que somente recuperou seu real valor na história
da arte do século XX, uniu o esmero ilusionista barroco
ao requinte decorativo.
O artista rococó, ao contrário do barroco, se
apropriava de moldes decorativos - previamente elaborados
em oficinas artesanais - e os reconfigurava em outro espaço,
juntando imagens existentes com outras criadas, numa espécie
de assemblage pós-moderna, pois o rococó foi
a primeira escola de apropriações na história
ocidental da arte, tendo, em sua gênese, uma atitude
indicial de pós-modernidade.
Podemos sentir na obra da artista Raquel Gralheiro um quê
de rococó pós-moderno. É claro que sua
obra deve ser lida como parte do repertório típico
da pós-modernidade, pois o que a artista faz é
um comentário visual de toda a imagerie que se constitui
do passado da arte, no seu caso, a contemporânea . É
assim uma espécie de puzzle de referências, juntando
a pop art ao design, os slogans publicitários massificados
pelas revistas de tvs (ou cor de rosa como se diz em Portugal)
às questões da pintura contemporânea.
Através de objetos e pinturas, Raquel Gralheiro constrói
um labirinto de apropriações altamente reconhecíveis,
com suas damas rococós, anjos pós-rafaelistas,
pin-ups de revistas antigas, arabescos florais de maçãs
- fruta utilizada na pintura renascentista como símbolo
de pecado original -, monalisas pós-modernas posando
de Marilyn Monroe mescladas às balas candy, formando
um caleidoscópio de cores e citações.
São como babycakes e têm a cara dos dias atuais,
com suas reviravoltas políticas, econômicas e
sexuais. Afinal, a arte contemporânea se confunde com
a própria história da arte de nossos tempos,
ainda mais quando se funda sobre o argumento de uma crítica
ao artificialismo do projeto moderno. A modernidade que se
opôs primeiramente ao canônico acabou por revelar-se
ela mesma um cânone de moderno. É contra este
fetiche de museologismo, contra a unanimidade mercantilista
dos artistas paradigmas de ações na bolsa de
valores, que a arte contemporânea busca fundamentar-se.
Cria-se, assim, a ilusão de que, afinal, tudo é
inútil e falso. Dessa forma, o Puppy, de Jeff Koons,
toma lugar da Merda do artista, de Piero Manzoni, como a última
boutade moderna. Num mundo onde o gosto pode flutuar como
cotações na bolsa, o gosto é hoje uma
trincheira que protege o homem da sensibilidade rude e da
selvageria - apenas para retomar o conceito de gosto em Schiller.
O kitsch, como suas lojas de 1,99, torna-se para o artista
contemporâneo o último baluarte dos atributos
estéticos do kitsch.
Por mais reles que sejam, estes gadgets são símbolos
do status vigente: aí reside a diferença latitudinal
entre países ricos e pobres; entre o que se produz
de bom grado e o que se é obrigado a produzir para
sobreviver. Não podemos esquecer que as grandes marcas
do sistema capitalista do hemisfério Sul produzem suas
peças nos hemisférios e latitudes dos paises
pobres ou miseráveis.
Se o mundo se transformou em um híbrido de selvageria,
gosto kitsch e imperialismo capitalista, nada melhor que devolver
a este mundo, através da provocação,
da ironia, dos trocadilhos, da apropriação dos
gadgets, o seu próprio produto.
Através de um sistema combinado de idéia e matéria,
a artista busca desenvolver o potencial plástico e
semiótico, unindo o conceito de objet trouvé
ao de readymade, criando uma nova percepção
sobre objetos do cotidiano que, por mais barato que sejam,
apresentam ,dentro do sistema capitalista, alguma noção
de valor. Esse é o vetor central na obra de Rachel
Galheiro.
Paulo
Reis
Rio de Janeiro, 2004
Paisagems Deslocadas
Se os
anos 80 foram marcados, também entre nós, pela
reabertura do campo pictórico, houve, ao mesmo tempo,
enorme ocorrência de equívocos quanto ao significado
desta retomada. Vemos isto em muitos dos trabalhos apresentados
pelas recentes exposições de "balanço
histórico" no Rio e em São Paulo. Sem dúvida,
confrontada com a presença de um Jorge Guinle que naqueles
anos produziu obra de rara densidade plástica, toda
a euforia de época parece boiar na superfície
do fenômeno artístico. Decantação,
hoje mais visível do que nunca, que demonstra o quão
superficial era aquela palavra de ordem geracional, em muitos
casos não intentando outra coisa que a simples comercialização
publicitária de um comportamento juvenil. Passado o
tempo, havendo nele quem incorporasse o que de melhor se refletia
esteticamente, temos hoje uma leva de pintores oriundos dali
que, afastados da banalidade a que aderiram ou os envolveu
desavisadamente, conseguiu reafirmar-se com consistência
e vem buscando caminhos variados para tornar a longa tradição
da pintura um meio contemporâneo de pensamento plástico.
Podemos rapidamente enumerar, sem que façamos juízos
e distinções que devem ser feitos, alguns desses
artistas que suscitam a atenção comum: Paulo
Pasta, Cristina Canale, Fábio Miguez, Rodrigo Andrade,
Beatriz Milhazes,... Não intentando fazer listas, somente
menções que sugiram o campo, caberia incluir
a produção de Marcus André nesta constelação
para pensarmos ainda de um outro modo a arte que faz-se hoje
entre nós.
As recentes pinturas realizadas nos anos 2000 dão uma
virada significativa em seus trabalhos dos anos 90 ao proporem-nos
outras circunstancias pictóricas e desdobramentos.
Marcus rompeu através de experiências com a gravura,
feitas uma parte aqui e outra nos Estados Unidos, seu primeiro
contato com a pintura no clima eufórico do Parque Lage,
podendo retomar a lida com os "pincéis" durante
toda a década passada pela via de uma restrição
radical de seu experimento artístico de meios - seu
vocabulário cromático, sua dinâmica de
superfície com a espessura de pigmento, sua captação
de luz com materiais reflexos e densidades translúcidas
a recobrirem o quadro - produzindo a enorme afinidade sua
com uma encáustica bem carregada de cera que manipulou
com grande domínio. Para além dessa restrita
dieta de ateliê, se ocupou em desvencilhar a experiência
da fatura dum figurativismo arbitrário e banal com
o qual se engraçara pela onda neo-pop daqueles primeiros
anos. Elegendo, ou melhor, descobrindo a paisagem como sua
fonte de inquietude, abriu mão de outro equívoco
que foi o de dar centralidade à pesquisa da "imagem"
que obsedou os olhos de muita gente naqueles anos 90 deslumbrados
com as "novas mídias". O que pareceria mera
profissão de fé artística, inevitavelmente
conservadora pelos termos da adesão se considerada
por qualquer adepto da inovação pura e simples,
revela-se hoje um consistente aparato de presentificação
da pintura bem mais promissor aos nossos olhos do que outras
tantas estilizações glorificadas por agora.
Desde sempre, vale dizer, a pintura é uma arte do tempo;
ainda que tal fato fique aparente apenas com as pesquisas
artísticas modernas de meados do XIX para cá.
Uma temporalidade nova emerge a cada quadro pintado, como
se pinturas fossem máquinas de evocar o tempo em seu
feitio desmedido, pondo-nos em contato com certa dimensão
"metafísica" desse fenômeno que sempre
abalou as estruturações quase sólidas
da racionalidade. Pintar é refletir o tempo, é
um pôr-se e um tirar-se do tempo. Não há
quem esteja frente à pintura, seja ela qual for desde
que boa, e não experimente a sensação
de abertura para o desconhecido da duração,
vivida em conseqüência das maneiras de se fazer
presente que possuem um quadro pintado. Seja pelo aparecer
ou apagar-se do gesto que o instaura com suas marcas e rastros;
seja pela sua atividade que mobiliza ao jogo o intelecto (
pela construção em estratégias de "compor",
"formar", "figurar"); ou, ainda, no trazer
a tona suas referências históricas, estéticas
e culturais; ou, tão simplesmente, pelo abandono súbito
que produz carregando-nos o corpo para fora de seu estado
e atirando-o numa dimensão contemplativa que é
pura reflexividade; cada pintura refunda o tempo. Tudo em
uma pintura é vivido pelo olhar como a aparição
de um tempo que instaura sua própria medida e que nos
remove da fixidez crono-gramada. Daí que, mesmo com
toda a inovação tecnológica acelerada
no gerar e repor velozmente os padrões e dispositivos
de imagem, algo tão arcaico e sem pretensão
como a pintura possa ser um poderoso instrumento de desautomatização
do olhar, pura potência de atualizá-lo, como
nada mais que conhecemos tem. Sempre erra quem atribui ao
quadro caráter estático de retícula a
nos dispor imagens, como se fosse um monitor de televisão,
uma caixa de produzir representações no espaço.
As últimas telas de Marcus André são
muito atentas a isto. Se antes, em pinturas que apresentavam
vibração esfumaçada e ruído atmosférico,
podíamos nos surpreender quando, acompanhando a superfície
bidimensional carregada de granulações e resíduos
sobrepostos, o plano se abria para um espaço incerto,
evocando-nos a sensação de vagas paisagens cosmológicas;
agora tudo se radicalizou numa unidade mais forte de procedimento,
fatura e furtiva ilusão visual, sem que possamos nos
decidir sobre o que vemos a cada momento. No painel aqui exposto,
ao transpor a suspensão do jogo instável entre
plano e profundidade, vemos uma paisagem delineada no escorrimento
da tinta. O resíduo quase acidental de fluxos pela
inclinação do quadro desenha em incerta escala
um território árido, sem identidade nem cor
local, lugar que pode ser bem uma cadeia de montanhas, se
exagerada sua distância, ou uma ondulação
de areia no chão de praia desbastado pelo vento, se
aproximada. De todo modo, menos um lugar característico
e mais uma topografia acidentada, testemunho do correr da
vida roendo o tecido aparente das coisas e as devolvendo à
horizontalidade acomodada de sua carne, de sua matéria
grave. É como se vê na parte direita do painel,
num acumulo de estrias de cor que já não delineiam
nada, puro sedimento, mera rugosidade chã. Mas tudo
não passa de um acaso, verificável na contrariedade
de sentidos que por um momento se apagou em nossa imaginação:
o da tinta que escorria da direita para esquerda numa sutil
diagonal e o da paisagem que é erodida como que num
contrafluxo. Talvez sejam esses respingos de tinta a confundir
a vista quanto a suas verticalidades... Sem dúvida
a extensão lateral decorrente da junção
de duas telas produziu uma horizontalidade que empresta grandeza
a sensação, um aspecto panorâmico acontece
ali, não por acaso.
Agrada-nos ver como Marcus André se abre agora, no
que podemos supor ser um novo momento de seu trabalho, para
uma maior soltura, alcançada depois de seu mergulho
na culinária do ateliê, deixando-se experimentar
uma nova relação com as cores que podem proliferar
em seu quadro sem facilidades, mantida de outro modo uma unidade
de luminosidade e de tons serenos. A força dessa nova
paisagem está muito em sua emergência inusitada,
que guarda similaridade com o como o tema ressurge para o
artista em seu percurso guiado pela materialidade do fazer
pictórico, absorção de um vivido pela
técnica. Encontramos ali uma natureza não-representável,
nada de imagens verdejantes e pitorescas projetando um país
imaginado, uma nacionalidade vazia em sua fixação
de identidade, mas uma experiência viva do tomar forma,
do fazer-se espontâneo e incessante do que se expõe
ao tempo e acolhe seu desígnio enérgico. Nada
da exuberância pra consumo externo; muito da vivência
erosiva de um lugar que de tão instável está
sempre a ponto de virar um lugar nenhum.
Afonso Luz
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